Dicas de um terapeuta sexual sobre vibradores
Nós supomos que você sabe como usar um vibrador (e se você não sabe, tente comprar um e experimentar com essa nova ferramenta de prazer). O Bullet Lilit é uma ótima forma de experimentar com vibradores: ele tem um design sofisticado, na cor bordô, pequeno na proporção de um batom, feito de plástico ABS seguro com um toque aveludado único na categoria.
Como tudo no sexo, existem diversas dúvidas que que valem a pena falar além da mecânica básica. São geralmente questões que nos ajudam entender o nosso relacionamento com o prazer, nossos bloqueios pessoais com a nossa intimidade e a nossa comunicação com o parceiro - além de orgasmos mais prazerosos. São as coisas que são desconfortáveis de falar abertamente: até quando falar é a melhor opção.
Chamamos o terapeuta sexual e médico Stephen Snyder, autor do livro Love Worth Making, para desvendar algumas respostas de como podemos colocar nossos vibradores para uso.
Que tipo de conversas você tem com suas pacientes mulheres sobre masturbação e vibradores?
A primeira coisa que falo para minhas pacientes é que elas tenham certeza que estão realmente excitadas. Como terapeutas sexuais, nós não ligamos tanto para o orgasmo. Queremos saber se você está genuinamente excitada. Não só molhada - essa é uma forma ruim de medir a excitação. Eu quero dizer realmente excitada - ao ponto que o telefone pode tocar e você não vai ligar para quem está ligando e o que querem falar.
É incrível como muitas mulheres crescem do sexo na adolescência até o sexo na idade adulta sem nunca saber o que é realmente se sentir excitada. Então nossa primeira prioridade é garantir que o paciente saiba o que é um estado excitatório em seu auge. Algumas vezes, a melhor forma de obter essa resposta é usando um vibrador, que pode ser mais eficiente que as mãos e dar menos trabalho.
Vibradores funcionam melhor quando existem outras formas de excitação, como a fantasia. Eu digo para minhas pacientes que existem duas estradas para o orgasmo: a estrada mais curta não precisa de muita excitação, mas a fricção certa no lugar certo pode te levar ao clímax. E tem a estrada longa: onde a excitação cresce e cresce até explodir como água em uma fonte. A intensidade do orgasmo é geralmente proporcional a quanto você consegue ficar excitada. Então quando testar um novo vibrador, tente sempre ir pela estrada mais longa.
Mulheres variam muito na quantidade de estimulação que precisam para chegar ao clímax. E o que nós terapeutas sexuais chamamos de portal do orgasmo. Se você é uma pessoa que demora muito para chegar ao portal do orgasmo, que precisa de muita estimulação para ter um clímax, então provavelmente só com um trabalho vigoroso nas mãos você consegue chegar lá. Mas quem quer ter esse trabalho? A vida é complicada. O sexo deve ser fluído: se usar um vibrador te ajuda a chegar lá mais rápido, use. Chegar a um orgasmo não deve ser como escalar o Monte Everest sem oxigênio.
Você prescreve a masturbação?
Se alguém não tem muita experiência em ficar genuinamente excitado, claro que prescrevo. Se você tem interesse em entender e praticar mais a masturbação, você escolheu a melhor hora para começar: especialmente agora com os carregadores USB, vibradores com diversas velocidades e esteticamente agradáveis e uma crescente curadoria de influencers e consumidores.
A ciência também esclareceu alguns enganos sobre o orgasmo feminino. Por exemplo, hoje nós sabemos que todos os orgasmos tem fonte clitoriana e não da vagina. Como? Simples. A maior parte do clitóris é interna, onde você não consegue ver. O clitóris que você vê para fora é parte de um complexo sistema de excitação e prazer interno que alcança toda sua vulva, vagina e ânus. Os chamados “orgasmos vaginais” envolvem estímulo direto do clitóris através das paredes do canal vaginal.
Mulheres podem variar o quanto gostam de estímulos na parte interna ou na parte externa do clitóris. É preciso prática para entender os movimentos que você mais gosta. E a masturbação é de longe o melhor método de prática.
Quais são os principais preconceitos sobre vibradores que você já escutou durante sua carreira?
O primeiro preconceito é achar que aprender a se masturbar com um vibrador vai limitar a sua capacidade de obter um orgasmo sem ele. Existem mulheres que podem ser esse caso, mas elas são a grande minoria. A maioria das mulheres que atendo gostam de alternar entre o orgasmo com vibrador e o orgasmo manual.
O segundo preconceito é achar que se você mesma consegue chegar ao clímax sozinha, esse orgasmo é de alguma forma “inferior” ao orgasmo que você tem com seu parceiro. Isso não faz sentido nenhum. Orgasmos são orgasmos. A única questão é se você cria as condições certas para eles acontecerem.
Muito homens cisgêneros heterossexuais têm o mesmo preconceito. Eles acham que é esperado deles fazer coisas incríveis que levem a mulher para o orgasmo. Eu digo para eles para ao invés de pensar em malabarismos, pensarem no ritmo. Dê para ela uma boa batida e siga a condução dela.
Como as mulheres podem fortalecer sua relação com a própria sexualidade?
A sua sexualidade é uma parte que você vivencia quando está genuinamente excitada. Eu gosto de pensar na nossa sexualidade com o temperamento de uma criança pequena: ela não liga muito para o que o mundo acha que ela deve fazer. A sua sexualidade também é narcisista. Ela quer ser tratada como a coisa mais importante do mundo. Quando você está realmente excitada, você pode se sentir mais próximo ao seu parceiro, mas você não quer escutar como foi o dia dele. A sexualidade quer ser tratada como a coisa mais magnífica do universo.
Para cultivar uma boa relação com sua sexualidade, é essencial ter bons hábitos como o mindfulness e a meditação - que, como você deve saber, são palavras para o que acontece quando você para e fica atenta ao momento presente, com o mínimo de julgamento possível. O mínimo de julgamento possível tende a ser um dos principais bloqueios. Nós nos julgamos demais.
Alguns dos trabalhos mais legais da terapia sexual hoje em dia são sobre mindfulness como ferramenta para se auto desbloquear, para sua mente sexual faça o que naturalmente sabe fazer. Os principais “ingredientes” do mindfulness são a atenção, o momento presente e deixar de lado o julgamento - alguns dos principais ingredientes de um bom sexo. A maioria das terapias sexuais dos anos 1960 são na verdade técnicas de mindfulness, mas o termo ainda não tinha ficado popular. Foi agora na última década que minha colega Lori Brotto em Vancouver começou a ensinar mindfulness para mulheres com dificuldades sexuais e ajudou a encaixar as peças que faltavam para o quebra cabeça da relação do mindfulness e sexo.
Qual a melhor maneira de ficar confortável para usar um vibrador na cama com um parceiro?
Muitas mulheres heterossexuais acham difícil ficar confortável usando um vibrador na companhia do parceiro. Mas a maioria dos homens heterossexuais acham a experiência de assistir intensamente erótica.
Eu falo com minha pacientes constantemente sobre isso - mas a maioria não acredita nisso. Talvez seja porque a maioria das mulheres não fique excitada ao ver um homem se masturbar. Então é um exercício pensar em como deve ser erótico para ele. Algumas vezes peço para as pacientes tragam os parceiros para que eles confirmem que acham o uso de vibrador em suas parceiras erótico.
Uma ótima maneira de usar o vibrador com o seu parceiro é demonstrar exatamente como você gosta de usar o vibrador quando está sozinha. Não se preocupe em seu parceiro ficar de fora. Dê algo para eles fazerem, caso isso te faça ficar mais confortável - como fazer carinho no seu cabelo ou beijar seu pescoço.
Se você está tímida, pode ser que você queira tentar a posição de motociclista, onde você está na frente e seu parceiro senta atrás, te segurando suavemente. Ao longo da masturbação, é legal virar e ficar cara a cara, olhando para dentro dos olhos enquanto você chega no seu clímax.
Como introduzir algo novo, sexualmente, para um parceiro de longa data?
Fale que você quer contar um segredo para seu parceiro - algo que você sempre quis tentar, algo que te excita demais. Provavelmente ele vai ficar excitado de experimentar com você. Na cama todos somos narcisistas. Gostamos de ouvir que somos especiais.
É claro que o sexo com um novo parceiro pode ser muito excitante. Mas também pode ser como você estivesse pegando uma tour rápida em uma capital estrangeira. Você vê o Museu do Louvre, a Torre Eiffel, todas as partes mais bonitas. Mas fique mais um tempo e você vai ter sorte se não visitar os lugares que eles não mostram para os turistas.
Outra maneira de introduzir o vibrador na vida sexual do casal é comprar o vibrador junto com o parceiro.
Como um vibrador pode ser uma ferramenta para fortalecer a intimidade?
Ajuda muito. Mas temos que entender a intimidade de um jeito diferente. A maioria das pessoas começa o relacionamento achando que precisa da validação do outro o tempo todo. Cuidar das necessidades da pessoa amada. Mas eventualmente isso se torna exaustivo. Eventualmente você se dá conta que você é responsável por suas próprias necessidades - ou pelo menos de garantir as suas necessidades. O relacionamento que funciona melhor é quando os dois certificam que estão garantindo o próprio prazer.
Mesma coisa com o sexo. Funciona quando você toma a responsabilidade dos seus desejos sexuais para si. Decidir que você quer fazer sexo com um parceiro mais do que com um vibrador é uma expressão do princípio de responsabilidade.
A paixão é egoísta. Eu sempre pergunto para meus pacientes: “O que é mais erótico: um parceiro que quer fazer o melhor sexo do mundo ou um parceiro que demonstra que gostam muito de estarem com você, porque quando ficam com você, eles ficam extremamente excitados?” A maioria das pessoas escolhe a segunda opção.
A generosidade erótica pode ser poderosa. Mas o egoísmo erótico pode produzir um sentimento de conexão bem mais profundo que a generosidade erótica. É claro que você não deve estar completamente egoísta em relação a procura do seu próprio prazer e ignorar o seu parceiro completamente. É priorizar o seu prazer e o tornar protagonista, com cuidado e atenção.
Escrito por Stephen Snyder. Tradução livre de artigo publicado originalmente no Goop. Leia o artigo original.