O Barbeiro: Ele me amou por ser livre

HISTÓRIAS ERÓTICAS PARA MULHERES LIVRES. SE INSPIRE E DESPERTE A SUA IMAGINAÇÃO PARA SENTIR NA INTENSIDADE QUE VOCÊ DESEJA. CONTOS PARA GOZAR, SE DELEITAR. NA VIDA, NO QUARTO E NA CAMA.

Eram 21:30 quando entrei na barbearia do shopping perguntando se tinha alguém que ainda poderia me atender. Percebi o estranhamento da recepcionista. O que uma mulher | negra | cabelo afro |... estava fazendo ali?

Logo um dos barbeiros saiu detrás da cadeira de atendimento e veio na minha direção.

Posso te ajudar com alguma coisa?

– Eu queria raspar meu cabelo!?! , falei de um jeito que pareceu mais uma pergunta. 

Lógico. Espera um minuto enquanto eu preparo minha estação, tá?


Eu gelei! Talvez estivesse torcendo para ouvir mais uma recusa. Depois de escutar da minha cabeleireira que ela “não trabalhava com esse tipo de corte”, achei que poderia seguir adiando meu desejo de ficar careca já que, confesso, estava morrendo de medo. 

Medo de me arrepender, medo de como iria me encarar no espelho e medo, tenho que admitir, de que isso aumentaria a distância entre os homens que me interessavam platonicamente e eu. 

Enquanto ele separava os pentes da máquina de cortar e limpava a cadeira, comecei a perceber minhas mãos trêmulas e molhadas. Minha vontade estava sendo atendida rápido demais. Atordoada, cheguei até a esquecer por qual razão eu estava ali, prestes a me despedir da minha linda e enorme juba. 


Vamos?, ele me perguntou sorrindo.

Mudei de ideia. Obrigada!

Isso mesmo. Falei uma única frase, com pressa, e fui embora sem olhar para trás. Obviamente se senti tola por ter desistido de seguir em frente com meu plano. Esse era, não esqueçamos, um desejo que eu vinha cultivando há tempos.

No dia seguinte, ainda mais tarde do que da primeira vez, lá estava eu de novo. Ele me viu quando eu ainda passava pela vitrine e começou a sorrir. Provavelmente pensando: “vamos ver o que ela quer agora”. 

Assim que entrei na barbearia, ele virou sua cadeira na minha direção e fez sinal para que eu me sentasse. Seus braços eram cobertos por tatuagem, a barba e o cabelo brincavam com o corte degradê imitado por um em cada dois funcionários de barbearia. De toda forma, ele se destacava dos demais. Talvez porque me olhasse como se estivesse a ponto de fazer uma proposta indecente para a qual já sabia a reposta.

A única coisa que me perguntou antes de começar foi: “vai tirar tudo mesmo?”. Não quis saber sobre minhas preferências de corte, não questionou se seria máquina um ou dois e muito menos minhas razões. Quando a última pessoa saiu do salão, o barbeiro ainda estava com a tesoura, tirando montes e mais montes de cabelo que pareciam nuvens escuras, daquelas que carregam consigo a eletricidade para os raios mais estrondosos. 

Enquanto meus cachos iam se amontoando no chão, fui sentindo uma leveza parecida com a de quem acorda torcendo por um dia de sol e vê um céu de brigadeiro. Aos poucos fui relaxando. Apesar de ter mãos enormes e dedos grossos, ele me tocava a nuca e mexia no meu cabelo de um jeito suave, gentil. Perdi a conta de quantas vezes me arrepiei ao senti-lo encostar mais demoradamente nos meus ombros e colo.

Só quando o som da máquina cessou foi que decidi me olhar no espelho. Queria que alguém tivesse filmado minha reação. Um verdadeiro encontro com minha alma gêmea, uma versão por quem me apaixonei num piscar de olhos, sem me dar conta de que ela esteve sempre ali. 

– Eu sabia, ele disse.

– O que?

– Que você era realmente linda.

– Tô me sentindo nua.

– Tenho certeza de que nua de verdade você deve ser ainda melhor.

Sim! O barbeiro falou isso! Um segundo de silêncio constrangedor tomou conta do lugar, até que ele mesmo percebesse a linha que tinha cruzado.

– Desculpa... Desculpa! Não acredito que falei isso em voz alta.

“Tudo bem”, eu respondi fazendo questão de tranquilizá-lo. Até porque era óbvio que estávamos nos paquerando desde a hora em que nos vimos. Portanto, a tensão que foi se acumulando durante o corte precisaria extravasar de alguma forma. 

O que mais gostei naquele elogio foi o fato de ele, ao contrário da maioria dos homens, entender que minha beleza estava guardada em diferentes lugares e que eu não precisava de uma crise de rebeldia para querer raspar a cabeça. Na verdade, para ele pouco importava. Era como se me admirasse simplesmente por eu não ter tentado justificar minhas razões. E elas eram muitas. Talvez ele tenha feito suas próprias teorias ou simplesmente era o tipo de pessoa que não perde tempo fazendo julgamentos sobre os outros. O fato é que a naturalidade com a qual ele lidou com meus desejos foi extremamente estimulante para mim.

“Me espera para irmos embora juntos?”, me perguntou enquanto tirava o cabelo caído do meu corpo. “Claro!”, respondi. “Posso te dar uma carona, se quiser”. Ele concordou sorrindo. 

Foi curioso caminhar ao lado dele pelo shopping fechado, lojas com suas portas trancadas e um ou outro segurança olhando-o como se soubessem o que estava por vir. Entramos no meu carro. 

– Aonde você quer ir?

– Qualquer lugar em você.

– Tá falando sério? 

– Você vai ficar ofendida se eu disser que gozei pensando em você na primeira noite que te vi?

– O que?

– Tá, vou falar diferente. Você mexeu comigo. Cheguei a perguntar para a recepcionista se você tinha deixado seu número e estava pensando em uma desculpa para te ligar.


O jeito como ele falava o que pensava sem rodeios era meio constrangedor e ao mesmo tempo excitante. Não sei se foi a descarga de adrenalina que correu pelo meu corpo depois do corte ou se eu apenas quis tirar proveito da oportunidade perfeita. Mas dei uma única resposta antes de montar no colo dele, passando do banco do motorista para o do passageiro com uma destreza que me deixou orgulhosa.

– Vamos gozar juntos dessa vez, então.

Minha cabeça ainda estava sensível e sentir a mão dele percorrendo meu couro cabeludo recém liberto fazia com que isso provocasse ondas elétricas de eriçar os pelos.

– Espera até a hora do banho para você ver como vai ser - me disse ciente das reações corporais que estavam ocorrendo.

Depois de uma ginástica pouco sensual para tirarmos a roupa e ele colocar a camisinha, sentei-me devagar em cima dele.  

– Você está toda molhada. Que delícia.

Foi a última coisa que disse antes de ocupar a boca apenas com beijos, chupadas e gemidos no meu ouvido. 

O barbeiro me segurava pelo quadril fazendo por mim o movimento de sobe e desce enquanto eu estimulava minha vulva todinha com uma das mãos. O vidro embaçado, o receio de sermos pegos e o fato dele mandar muito bem fizeram com que gozar fosse inevitável. 

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A falta de espaço nos obrigou a construir uma intimidade improvisada, deixando nossos corpos colados, friccionando um no outro e incrivelmente conectados. Provavelmente gritei quando atingi o orgasmo. Mas não me lembro ao certo. Estava de olhos fechados, entregue, me sentindo um pouco livre e um pouco selvagem. Eu estava imersa em todas as novas sensações que me percorriam literalmente dos pés à cabeça. 

O gozo dele veio igualmente rápido. Percebi suas mãos me segurando com mais firmeza, o corpo mais rijo e sua respiração quase desesperada, até que depois de segundos intensos, com sons aflitos e gestos milimetricamente coordenados ele se soltou, mas não o bastante para se afastar de mim. Era como se desejasse se manter interligado ao que eu era. E assim o fez, desferindo beijos suaves incessantemente e elogiando meu corpo, meu cheiro, minhas curvas. 

Outra pausa para a ginástica de se vestir no carro e ele avisou: “estou de moto. Só queria passar esse tempo com você”, disse. Antes de sair, ainda me disse que o próximo encontro seria no meu chuveiro. “Me liga”.

E se tem algo que combina com a mulher transgressora que me sentia era aquele tipo de homem, que sabe e vai atrás do que quer. Para mim sorte, nós dois queríamos a mesma coisa e isso se comprovaria encontro após encontro.

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Monique dos Anjos é escritora de contos eróticos para mulheres, jornalista e estuda gênero e raça para pesquisas acadêmicas. Além dos trabalhos de escrita, desenvolve palestras sobre letramento racial e equidade de gênero.

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