Na estrada
por Afrodite Anônima
em Mar 31, 2023
HISTÓRIAS ERÓTICAS PARA MULHERES LIVRES. SE INSPIRE E DESPERTE A SUA IMAGINAÇÃO PARA SENTIR NA INTENSIDADE QUE VOCÊ DESEJA. CONTOS PARA GOZAR, SE DELEITAR. NA VIDA, NO QUARTO E NA CAMA.
Abro os olhos com dificuldade, tentando me localizar. O vento que sopra da janela faz meu cabelo se balançar dramaticamente em uma bagunça de liberdade com a estética que, como mulheres, sentimos em poucos momentos de nossa vida. Tanto faz se estou bagunçada – esse movimento, em contraste com o balanço do carro, está uma delícia e alimenta meu espírito de paz. Ao meu lado, minha companheira dirige concentrada, mas curtindo a música, e, se bem a conheço, com essa mesma sensação sem nome que eu sinto agora, de estar em um ponto desconhecido da estrada e de peito aberto para o que vier.
Por trás dos óculos escuros, a encaro, passando de leve as mãos em sua nuca por entre os cabelos, e ela me sorri.
— Acordou, linda?
Respondo que sim com a voz manhosa, me ajeito no banco e volto a encarar a estrada, que, a essa hora da tarde, descortina diante de nós uma beleza única do sol tocando barrancos, matas e casinhas, que vão surgindo diante de nós como desenhos. Encaro minha namorada com igual admiração, como se a luz do fim de tarde fizesse também, pelo seu corpo, um desenho, complementando a beleza que já existia ali. Por um momento, admiro mais uma vez a sua e a nossa liberdade. Quantas mulheres tiveram que sofrer e lutar para que pudéssemos fazer uma coisa simples como dirigir um carro estrada afora, nos beijarmos em público, juntarmos nossos gatos e morarmos juntas com total naturalidade?
Amar mulheres é a própria liberdade, e, mais do que isso, é uma transgressão de todo o ódio que destilam contra nossos corpos e esperam que tenhamos umas das outras por competição.
Por debaixo dos óculos de sol, encaro cada parte de seu corpo de trás do volante e sinto crescer dentro de mim o desejo de tocar aquela mulher em todos os cantinhos que eu puder. Quando nos conhecemos, eu disse que queria beijar cada uma de suas centenas de pintinhas espalhadas pelo corpo e, ao longo dos anos, me esforcei ao máximo para conseguir isso. Impossível: minhas centenas de beijos jamais dariam conta de expressar minha vontade da sua pele, da sua carne e do seu tesão.
Enquanto seguimos em um silêncio gostoso de intimidade, repouso uma das mãos em sua coxa, com cuidado para não a desconcentrar (demais) no volante. Sigo em um carinho tranquilo com a ponta dos dedos, ao mesmo tempo que, dentro de mim, na verdade, se passam todas as malícias e momentos em que nos derramamos uma na outra – como o dia em que nos conhecemos anos atrás e nos pegamos no banheiro de um bar na saída do trabalho. Foi a primeira vez que conheci a dança suave que é o flerte com uma mulher e a primeira vez que experimentei a selvageria seguida dessa suavidade. Afinal, você já viu como uma tigresa se aproxima de sua presa, sorrateira e delicada para, em seguida, atacar? Foi isso que ela fez…
Enquanto passeio os dedos pela sua perna, lembro também de como é estar ali mesmo, entre suas coxas, descobrindo, a cada passeio de língua, seus espasmos nas pernas, seus cantinhos preferidos e as diferentes entonações de seus gemidos. Porque estar entre suas coxas é entrar em estado de poesia.
Fecho os olhos por alguns instantes, e o vento da estrada com o carro em movimento agora embala também todas essas cenas que se descortinam em minha imaginação: seus cabelos bagunçados por mim saindo do banho; o dia que ela me mostrou como goza com o chuveirinho e tentou me ensinar; meu passeio pelo seu corpo com um vibrador; nossos beijos por entre lingeries coladas; as maravilhas que se escondem por nossos dedos – esses que agora, de minha parte, ficaram menos despretensiosos e, em meio ao carinho, sem eu perceber, foram de leve puxando sua saia, deixando parte das coxas à mostra no volante.
Essa viagem de início de férias é também para que nossos corpos se reencontrem em meio à rotina. Um tempo para que a gente se olhe, beije na boca, dance ao som da liberdade fora do dia a dia. Fantasio tardes suspensas no tempo, nas quais, em nosso chalé, em meio às montanhas, faremos todo o amor que for possível. Em que nossos corpos desfilarão apenas uma para a outra, sem pose, sem filtro, sem medo de errar. Em que nossa sinfonia de gemidos só poderá ser ouvida por nós mesmas e ecoará pela eternidade da nossa memória de desejo – assim como essas imagens ecoam por mim agora.
— Hey, linda, quer chegar aonde com esse carinho? — ela me pergunta e interrompe o meu fluxo de pensamentos. Me dou conta do tanto que subi sua saia e fiz com que ela se corasse de desejo, do jeitinho que eu amo.
E me percebo também excitada, com o clitóris pulsando e uma vontade de cruzar as pernas, me apertar, me roçar em alguma coisa. O sol de fim de tarde que nos iluminava de frente havia descido ainda mais, dando lugar ao início da noite e nos anunciando a hora de fazer uma pausa da direção, junto com a aproximação da cidadezinha em que combinamos a primeira parada.
— Depois do jantar, eu te conto aonde quero chegar...