Por Clelia Lopes, sexóloga.
Dentre os aspectos da sexualidade considerados importantes para qualidade de vida escolhi falar da masturbação, da libido e da importância da autoestima.
Segundo o dicionário Houaiss (apud Barballho 2018, p.58), masturbar-se que dizer “manipular, estimular os próprios órgãos genitais, ou os de alguém, para dar-se prazer, para alcançar ou fazer alcançar o orgasmo”.
Mas infelizmente, muitas mulheres não se tocam, desconhecendo assim as zonas erógenas mais prazerosas do seu corpo e não sabendo nem mesmo, como estimulá-las. A falta de conhecimento do próprio corpo prejudica a mulher, impedindo-a de sentir prazer, inclusive em uma relação a dois. O Prosex (Projeto de Sexualidade da USP) concluiu em uma de suas pesquisas, realizada em 2008, que metade das brasileiras não tem orgasmo nas relações sexuais.
É essencial que a mulher se toque e que essa ação aconteça de forma tranquila. Inclusive, é importante pontuar que esse contato corporal não precisa ser iniciado pelo clitóris ou pela vagina, o contato em um primeiro momento, pode ser iniciado pela nuca, depois os seios, pernas, nádegas e a vagina. O corpo humano é dotado de vários pontos de prazer (zonas erógenas). Com o toque é possível sentir essas zonas com as mãos, sem necessariamente focar somente em gozar, a exploração vai estimulando, passando as mãos pelos grandes lábios, pequenos lábios, na vagina e no clitóris.
Se masturbar é um ato de amor-próprio
De acordo com Barbalho (2018, p.59) “masturbar é um ato de amor por si mesma, unido aos sentimentos, pensamentos e fantasias sexuais que lhes dão origem...”
Quando falamos de amor-próprio estamos nos referindo a autoestima, que nada mais é que a maneira que nos percebemos com as nossas capacidades, habilidades e potenciais. Tem ligação também com a maneira que lidamos com nossos erros e limitações e com as críticas, sem a necessidade de aprovação de outra pessoa. A autoestima é importante para nos ajudar a conviver bem a nossa sexualidade e também para a viver com qualidade.
Já a baixa estima gera sentimentos de menos-valia, podendo acometer mulheres impedindo que consigam ter orgasmo, pois estão insatisfeitas com o próprio corpo, interferindo na sua sexualidade, impedindo-as de vivê-la com espontaneidade e liberdade.
Quanto mais livres estivermos de preconceitos, tabus, regras sociais, culturais e educacionais, mais poderemos viver nossa sexualidade com plenitude.
“Sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo conduzia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações!” Eça de Queirós. O primo Basílio
A libido e a energia vital
A sexualidade pode ser modificada no percurso de vida, principalmente quando a pessoa é acometida por uma doença grave em que possa ter uma baixa ou nenhuma libido. Libido ou desejo sexual, é considerado energia vital, procura instintiva do prazer sexual, desejo e energia que está na base das transformações da pulsão sexual”(Houassis).
Para Psicologia, a libido é importante para podermos compreender melhor o comportamento humano, já que é vista como energia que direciona instintos vitais. Instintos esses que pode se manifestar pela fome, sede, sexualidade, agressividade, necessidades e interesses variados. É essa energia vital que nos faz levantar todos os dias da cama.
Alguns estudos definem que a libido ou desejo sexual, como: “o aumento de pensamentos e fantasias sexuais, tanto em frequência quanto em intensidade”. Partindo dessa ideia, podemos compreender que a libido é também uma experiência subjetiva ou uma intenção sexual.
Temos estudos que afirmam também que libido ou desejo sexual são: “o aumento de pensamentos e fantasias sexuais, tanto em frequência quanto em intensidade”. O desejo sexual não é vivenciado da mesma forma pelas pessoas, logo essa energia pode ser direcionada para o ato sexual sim, mas também para vida profissional, missão, um projeto de vida, esporte, aulas de dança ou um curso. É importante desejar, ou seja, ter energia de vida.
A libido e o câncer de mama: tem ligação?
A libido está relacionada diretamente com o hormônios sexuais estrogênio e testosterona. A diminuição desses, pode prejudicar a vida sexual da mulher, diminuindo a lubrificação vaginal tornando a relação sexual desconfortável e até mesmo dolorida.
O desejo feminino também é influenciado por fatores externos, como tabus, depressão, baixa autoestima, sentimentos de inferioridade, fatores orgânicos, estresse, fantasias e crenças errôneas.
A libido também diminui em mulheres acometidas pelo câncer de mama. Algumas pesquisas mostram que de 35% a 50% das mulheres com esse tumor sofrem de algum problema relacionado a sua sexualidade.
Temas relacionados a sexualidade ainda são encarados como tabu, até mesmo na área da saúde. A OMS (Organização Mundial da Saúde) considera o impacto da vida sexual no bem-estar de mulheres com câncer e na preservação de seus relacionamentos, inclusive, atualmente se usa um termo para abordar estes temas oncosexualidade, visando a melhora da qualidade de vida das pacientes.
A falta de libido, pode estar relacionada ao tratamento de quimioterapia, assim, como a alteração de humor, a vagina sem lubrificação e até mesmo ondas de calor. Além disso, a mama também é fonte de prazer, após receber o diagnóstico da doença muitas mulheres, passam a se sentir menos atraentes e preocupadas com a possível retirada de suas mamas. Questões como essas podem influenciar na diminuição da autoestima dessas mulheres, assim como o próprio tratamento pode ocasionar desconfortos.
Existem algumas formas para amenizar as circunstâncias desagradáveis do tratamento como: lubrificantes a base de água, laser local para estimular a produção de colágeno, perucas, lenços, sutiãs com enchimentos, entre outros.
Abdo (2021, p.146), declara “sendo a atividade sexual uma forma de exercício físico e mental, libera substâncias benéficas à saúde e ao bem-estar (endorfinas, dopamina, ocitocina). O aconchego e a intimidade que o sexo proporciona combatem a ansiedade, diminuindo o cortisol circulante e beneficiando a imunidade do organismo”.
É percebido que os(as) pacientes dificilmente expressam suas preocupações com temas relacionados a sexualidade, preferindo muitas vezes que o profissional tome a iniciativa de perguntar. “Portanto, todos os membros da equipe que atendem esse(a) paciente devem estar preparados para abordar temas sobre sexualidade” (Fleury, Pantaroto & Adbo, 2011).
É importante exista um lugar de fala para que essas mulheres possam expressar sua opinião sobre sexualidade quando sentirem necessidade, e também que seja validada a importância da libido na vida das pacientes, por elas e pelos profissionais da área da saúde, dado que isso vai contribuir para que essas pacientes tenham maior qualidade de vida.
Referências Bibliográficas:
Abdo, Carmita. Sexo no cotidiano: atração, sedução, encontro, intimidade – São Paulo: Editora
Contexto, 2021. Barbalho, Maria Cecilia Meirelles. Mulher: relacionamento e sexualidade: uma
interface com a Gestalt-terapia. 1.ed. – São Paulo: Zagodoni, 2018.
Fleury, Heloisa Junqueira; Pantaroto, Helena, Soares de Camargo; Abdo Carmita. Artigo: Sexualidade em Oncologia. Programa de Estudos em Sexualidade (Prosex) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das
Clínicas da Faculdade de Medicina de São Paulo, 2011.
Houaiss A., Villar , M, S. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.